O segmento que primeiro deve buscar a solução é o de papel e celulose, que reclama há anos da falta de mão de obra para o plantio de seus pinus e eucaliptos. Inclusive, os testes da Forest.bot estão sendo feitos em algumas empresas do setor, como Suzano e Eldorado. Mas Guimarães espera que sua invenção também possa atuar em projetos de ARR, que envolvem o plantio de florestas do zero (afforestation), a restauração de áreas recém-desmatadas (reforestation) e a recuperação de solos degradados (revegetation).
O empresário vê com animação o potencial dessa atividade, dadas as metas do Acordo de Paris e o compromisso climático brasileiro, que inclui a recuperação de 12 milhões de hectares de floresta. Em empresas com capacitação, o plantio de 900 árvores em meio hectare costuma ser feito por nove trabalhadores no intervalo de uma hora. Apenas para recuperar os entornos de floresta que foram desmatados, ele estima que seria necessário plantar 7 bilhões de árvores, o que demandaria um contingente de mão de obra muito maior do que o que o setor florestal consegue manter hoje em suas fileiras. “A solução é mecanizar”, defende.
A invenção do Forest.bot é apenas o primeiro passo de Guimarães nos negócios de prestação de serviços para o reflorestamento. O empresário, formado em tecnologia da informação, também está trabalhando em um software que reúna todas as informações possíveis de projetos florestais, da semente ao manejo da floresta, passando por dados de espécies plantadas, aplicação de água e adubo, registro da mãe de obra, de uso de equipamentos de proteção e georreferenciamento.
A ideia, conta ele, é que essa plataforma conecte proprietários de terras que querem realizar projetos de RR com quem quer financiar, garantindo um ativo em falta atualmente nesse mercado: a transparência para se garantir que o dinheiro aplicado está, de fato, reflorestando o planeta. Seu plano é que a plataforma complemente o trabalho do Forest.bo, já que as máquinas estarão conectadas ao sistema de georreferenciamento.
Desenvolvimento rápido
A vantagem da parceria com a Incomagri foi a velocidade de desenvolvimento da solução. Como todos os equipamentos da máquina já tinham a homologação dos fabricantes, o processo de desenvolvimento foi mais fácil do que teria sido com uma grande fabricante, diz Guimarães. O empresário abriu pedido de patente do equipamento que desenvolveu, e hoje a Incomagri já está dedicando um de seus galpões em Itapira (SP) para fabricar a plantadora de mudas, apelidada de Forest.bot.
Guimarães bancou o desenvolvimento do projeto com os ganhos da Mahogany Roraima na venda de Créditos de Reposição Florestal pelo cultivo de mogno africano. Para produzir e comercializar o Forest.bot, ele abriu uma nova empresa, a Autonomus Agro Machines, e em outubro passado concedeu 15% do capital para a Incomagri. A princípio, a máquina será movida a diesel, mas o empresário já planeja desenvolver máquinas elétricas e completamente autônomas.
A companhia já deve entrar com uma pegada agressiva no mercado, com um valor bem abaixo dos concorrentes. Uma máquina sem suspensão inteligente deve custar R$ 2,98 milhões, enquanto outras plantadoras já à venda custam mais de R$ 4 milhões. Segundo Guimarães, o valor foi calculado para que entre na despesa básica que as empresas de papel e celulose têm com a substituição de máquinas antigas. Assim, esse custo não precisa ser submetido a aprovações de conselhos.
Falta de mão de obra
Em 2020, em um voo entre São Paulo e Boa Vista, Marcello Guimarães, dono da Mahogany Roraima, tirou da bolsa uma agenda e um lápis e começou a rabiscar um projeto de máquina que pudesse automatizar o plantio de mogno africano que faz em sua fazenda perto da capital de Roraima. O que parecia inicialmente uma ideia simples para resolver um problema próprio de repente atraiu o interesse de gigantes do setor de papel e celulose, evoluiu para a construção de novo negócio e, em julho, entrará no mercado brasileiro como uma solução para automatizar o plantio de qualquer tipo de árvore, seja em florestas comerciais ou em restaurações florestais.
O primeiro protótipo foi construído por um imigrante venezuelano que estava trabalhando em sua fazenda e que tinha experiência com a construção de máquinas agrícolas. Após alguns testes e publicações em redes sociais, Guimarães começou a receber contatos de gigantes como Suzano e Eldorado. “As empresas queriam participar do projeto”, conta.
Diferentemente de outras máquinas de plantio de mudas, a da Mahogany Roraima tem uma esteira deslizante que permite que o bico que insere a muda no solo fique parado na terra enquanto a máquina anda. Esse mecanismo evita que o bico “ande” pelo solo, o que, em outras máquinas, costuma provocar falhas no pegamento da muda e exigir ajuste manual posterior. Essa diferença é o que deve tornar seu negócio “disruptivo”, defende Guimarães. “Quero ser o Uber da floresta”, compara.
No formato atual, a máquina ainda pode ser usada em qualquer bioma, “até no deserto”, diz. Ele avalia que a solução também poderá ser utilizada no plantio de mudas pré-brotadas e cana-de-açúcar (“MPB”), atividade que ainda é predominantemente manual.
A solução era criativa, mas faltava quem a executasse. “Eu era só bem-intencionado”, brinca. Foi por um acaso que ele recebeu uma ligação de seu contador, que revelou a existência de uma pequena fabricante de máquinas e implementos agrícolas no interior de São Paulo, a Incomagri. Por coincidência, a empresa paulista já tinha uma máquina autopropelida, em que só seria necessário acoplar o mecanismo de bico e esteira deslizante desenhado no avião.